Outras causas de "Aumento da Ecogenicidade Hepática" (além de Gordura no Fígado)

Ana Beatriz Sacerdote • September 19, 2024

“Aumento da ecogenicidade hepática” é sempre Gordura no fígado? Veja as outras causas que devem ser avaliados caso essa alteração apareça no seu ultrassom

Não é incomum nos nossos exames encontrarmos algo que não entendemos bem. Isso pode ser um pouco angustiante e nos levar a buscas na internet ou a consultas de urgência. Hoje vou falar de uma frase que pode aparecer na ultrassonografia de muita gente, na verdade, na ultrassonografia de 20% ou mais da população, que é o “aumento da ecogenicidade hepática”


Mas primeiro, o que significa ecogenicidade?


De maneira simplificada, no exame de ultrassom, o aparelho lança ondas sonoras e avalia como os órgãos refletem essas ondas. A ecogenicidade diz o quanto um tecido, órgão ou líquido deixa passar ou reflete as ondas do ultrassom. Quanto maior a ecogenicidade, menos essas ondas passam. Quando algo infiltra o fígado (pode ser gordura, pode ser depósito de ferro no caso da doença chamada Hemocromatose, pode ser uma inflamação), isso dificulta a passagem das ondas de ultrassom, e faz elas refletirem mais. Por isso que essas situações podem causar um aumento da ecogenicidade hepática. Algo que não deveria estar ali está atrapalhando a passagem dessas ondas de ultrassom. 


A causa mais comum do aumento da ecogenicidade hepática é a esteatose hepática (gordura no fígado) associada à disfunção metabólica, que pode ser vista no ultrassom de mais de 20% da população. A gordura no fígado pode aparecer de forma primária (quando uma alteração no metabolismo como diabetes ou obesidade faz o fígado acumular gordura) ou secundária, quando alguma outra alteração até pode fazer o fígado acumular gordura, mas necessita de um tratamento específico. Além disso, alguma inflamação ou o depósito de alguma outra substância (como ferro), também podem dar um aspecto de aumento da ecogenicidade hepática, sem ser necessariamente por aumento da gordura. 

Por isso é importante sempre que esse diagnóstico surgir, procurar um hepatologista (médico que cuida do fígado) para que seja avaliado se isso é estetaose hepática e se é a forma primária (causada por alterações metabólicas) ou se essa gordura está presente como uma causa secundária a outras doenças.

Baseado na sua história clínica, nas suas doenças prévias, é possível sugerir logo na consulta inicial se realmente deve ser esteatose hepática, mas geralmente outros diagnósticos devem ser excluídos.


1. Consumo de álcool

A primeira coisa deve ser a avaliação da quantidade de bebida alcoólica. O uso de álcool acima de 20g por dia (no caso das mulheres) e 30g/ dia (no caso dos homens), pode levar a um aumento da ecogenicidade hepática por acúmulo de gordura no fígado que não vai melhorar com medicamentos nem dieta, apenas com ajuste dessa quantidade de bebida. Para quem não bebe diariamente, o cálculo da dose semanal e a forma como é feita essa ingestão são avaliados para ver se é um consumo de risco.

Se o consumo de álcool for menor do que 20g/dia (1-2 doses) para mulheres (140g/ semana ou 10-14 doses) e menor que 30g/dia (2-3 doses) para homens (210g/semana ou 15-21 doses), não se considera que o álcool seja a causa da esteatose.

Se o consumo de álcool for entre 20-50g/dia (2-4 doses) para mulheres (140-350g/ semana ou 10-25 doses) e entre 30g-60g/dia (3-6 doses) para homens (210-420g/semana ou 15-30 doses), e o paciente tiver pelo menos 1 critério cardiometabólico (veja no texto da esteatose esses critérios), a esteatose é considerada como mista álcool + disfunção metabólica;

Se o consumo de álcool for maior do que 50g/dia (4-5 doses) para mulheres (350g/ semana ou 25 doses) e menor que 60g/dia (5-6 doses) para homens (420g/semana ou 30 doses), mesmo que o paciente tenha um critério cardiometabólico acima, a esteatose é considerada como alcoólica;


A Organização Mundial de Saúde considera um consumo máximo de 21 unidades de álcool por semana para homens e de 14 unidades de álcool para mulheres. Também é possível identificar o bebedor excessivo episódico, aquele que em uma única ocasião consome mais da metade do número recomendado de unidades de álcool por semana. É importante lembrar que muitas pessoas podem ter problemas relacionados ao uso de álcool sem preencher critérios diagnósticos para o uso nocivo. Faça um teste aqui para saber se o seu consumo de álcool é considerado excessivo pela OMS.


2. Outras doenças do fígado

Outras doenças que causem uma infiltração do fígado por algo que não seja gordura também podem aparecer como aumento da ecogenicidade hepática. Dentre elas, deve ser lembrada a Hemocromatose, que é uma doença genética que causa acúmulo de ferro em diversos órgãos (fígado, coração, pâncreas, articulações). Além disso, a Doença de Wilson, que causa acúmulo de cobre no fígado. A história familiar e alguns exames podem sugerir essas doenças. Outras doenças de depósito como amiloidose, sarcoidose, também são causas de aumento da ecogenicidade hepática sem que haja necessariamente aumento de gordura no fígado


3. Hepatite C

A hepatite C é uma doença causada por vírus. Na maioria dos casos é assintomática, sendo percebida apenas através de exames ou quando já está muito avançada, podendo levar a cirrose hepática e câncer de fígado. A hepatite C pode causar um aumento da ecogenicidade hepática por acúmulo de gordura no fígado que só melhora com o seu tratamento, por isso deve ser investigada, sendo indicada a investigação em pacientes com alteração na ultrassom e em todo paciente acima de 40 anos.


4. Medicamentos

Diversos medicamentos podem causar alteração no fígado, desde uma inflamação leve até problemas mais graves no seu funcionamento, como falência hepática aguda. Por isso é sempre importante lembrar antes da consulta de anotar e levar os nomes e doses dos remédios que estão usando ou utilizaram recentemente, lembre-se de fazer isso em consultas com qualquer médico.

Alguns medicamentos usados por muitos pacientes no dia a dia, como corticosteróides (prednisona, dexametasona), metotrexato, amiodarona, hormônios (tanto anticoncepcionais como reposição hormonal), podem causar esse acúmulo de gordura, que será visto na ultrassom como aumento da ecogenicidade hepática.

Mas não necessariamente eles devem ser suspensos! Eles podem estar tratando um problema que seja mais grave que a gordura no fígado leve que eles causam, e com um acompanhamento médico adequado eles podem ser mantidos enquanto forem necessários e suspensos se o risco começar a ser maior que o benefício.

Portanto, se você usa algum desses remédios e está preocupado, não suspenda antes de falar com um hepatologista!


5.Doenças genéticas

Algumas doenças genéticas, como abetalipoproteinemia, deficiência de Lipases Ácida Lisossomal (LAL) e lipodistrofia, podem causar acúmulo de gordura no fígado, mas tem um tratamento diferente da esteatose associada à disfunção metabólica.


6. Outras doenças associadas:

Pacientes com alterações endócrinas (hipotireoidismo, panhipopituitarismo, deficiência de GH), síndrome dos ovários policísticos e doença celíaca também podem apresentar esse aumento da ecogenicidade no ultrassom. Não quer dizer que não necessite acompanhamento do hepatologista, pois a avaliação hepática é importante, principalmente para afastar causas associadas e reduzir o risco de doenças hepáticas.


Uma ultrassonografia mostrando aumento da ecogenicidade hepática precisa ser bem avaliada antes de ser definida a sua causa ou o seu tratamento. Na maioria dos casos realmente esse aumento significa gordura no fígado mas o que pode variar é a causa desse acúmulo de gordura, porque o tratamento vai depender disso.


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